INTRODUÇÃO
Foi por sugestão de um amigo que decidi percorrer de
moto as ilhas da Córsega (Corsica) e da Sardenha (Sardinia). Duas ilhas tão próximas mas tão diferentes.
Estava no barco a deixar Bonifácio em direcção a
Santa Teresa Gallura, após 5 dias a conduzir na Corsica, quando comecei a
sentir um enorme vazio. Vazio esse que não voltou a ser preenchido na viagem,
nem pela enorme beleza das praias (Spiagge) da Sardinia.
A VIAGEM
Comecei a conduzir moto com 10 anos, aos 20 comprei a
minha primeira mil (1100 CC) mas só me lancei em viagens internacionais aos 40
anos.
Com milhares de km percorridos em várias motos,
considero-me um "motard". Talvez por viajar sozinho, tipo "Urso
Solitário", nunca tinha ouvido falar que a Corsica é uma das
"mecas" dos "motards". Um amigo do peito falou-me neste paraíso e comecei a
traçar planos para a visitar. Algumas pesquisas na internet para ter uma noção do que me
esperava. Como não fazia a mínima ideia, todos os comentários que li foram
úteis.
Contrariando sugestões alheias, decidi fazer a viagem
entre Lisboa e Barcelona toda seguida. Com tudo preparado de véspera, deixei
Lisboa às 5 da manhã, parei 3 vezes no percurso e às 18 horas (hora de Espanha)
estava em Barcelona, muito cansado - 1274 km percorridos. Escolhi viajar por Cidade Real e Valência, pois a estrada é menos monótona do que viajar por Madrid.
Uma breve passagem a pé pela "La Rambla"
enquanto esperava pelo embarque e o tempo passou. Conforme determinado pela
Grimaldi, 2 horas antes da partida, fiz o check in no ferry. (Abreviando esta
experiência, o barco deixou Barcelona à uma da manhã, em vez das 23h00, do
horário estabelecido. É de todo o interesse ter algo à mão para comer e beber. Chegada a Porto Torres (Sardinia) às 13h30,
com duas horas e meia de atraso.)
Tinha decidido visitar primeiro a Corsica, pelo que deixei Porto Torres e segui de
imediato em direcção a Santa Teresa Gallura, sempre pela estrada junto ao mar.
Surpresa agradável ter passado por Castelsardo. (vale a pena visitar).
Cheguei a Santa Teresa pelas 16 horas e, por razões
alheias, já não segui para Bonifácio. A ansiedade aumentava, tão perto e tão
longe. No dia seguinte apanhei o primeiro ferry, com elevadas
expectativas e algum receio, confesso. O tempo estava bom e o dia iluminado pelo sol
fazia brilhar o azul do mar. A aproximação a Bonifácio foi uma experiência linda,
pois a vila histórica fica lá bem no alto, à beira dos precipícios. Fiz uma breve passagem pela vila, com tempo para tirar
algumas fotos e visitar o túnel da Segunda Guerra Mundial (Le Gouvernail de la Corse).
Rumei em direção a Porto Veccio, com paragem na linda
praia de Santa Giulia. (A não perder!!) Agora posso afirmar que não
fica atrás das praias da Sardinia!
Passagem por Porto Veccio com o Col de Bavella em
mente. Ao subir a montanha a paisagem foi mudando e cada curva revelava nova
surpresa, sempre lindo! Por ser em finais de Junho, viam-se milhares de
borboletas nos arbustos ao longo das estradas, num raio de cerca de 30 km em
redor de Bonifácio. A estrada até ao Col de Bavella é fantástica e tem
vistas maravilhosas, no entanto, este Col revelou-se uma maior surpresa. Único!
(A visitar com tempo, para fazer caminhadas.)
Com a rota traçada, segui para Corte, pela D420 e D69, com
passagem por Zicavo, Cozzano, Ghisoni e pelo famoso Col de Sorba. Confesso que
não foi boa opção pois a viagem foi muito dura para fazer depressa e a
estrada não estava em bom estado. A determinada altura, algures na serra, deixei
de ver motos e depois deixei de ver carros e pessoas, só floresta e estrada. O
tempo ia passando e fazer 20 km parecia-me uma eternidade. Com tanta curva,
subida e descida, os travões e a caixa de velocidades passaram pelo inferno e
eu cheguei exausto ao Col de Sorba, não tendo forças nem paciência para o
desfrutar, nem para tirar fotos!
Ghisoni
Ghisoni
À chegada a Corte estava muito contente e aliviado por não ter tido
um acidente, devido ao estado da estrada e por não ter chocado com os animais
que nela passeiam e dormem - porcos e vacas. Cerca de 190 km percorridos entre
Bonifácio e Corte demoraram quase um dia.
Corte é uma vila antiga, rústica e estava cheia de vida à noite. A vista do cimo da torre é inigualável! Ver daí o pôr do sol, algo único e apaixonante.
Corte é uma vila antiga, rústica e estava cheia de vida à noite. A vista do cimo da torre é inigualável! Ver daí o pôr do sol, algo único e apaixonante.
Depois da tortura de viagem do dia anterior, decidi
abrandar e traçar percursos mais pequenos. Segui para Bastia, com destino final em
Saint Florent e com ideia de visitar Nonza. A viagem até Saint Florent foi
breve e sem grande história. Alojei-me frente à praia e logo que foi possível,
banho de mar, para refrescar. Recomposto, a meio da tarde segui para Nonza,
querendo tomar uma cerveja na esplanada da "la Sassa".
Bastia
Saint
Florent é uma bonita vila, junto ao mar, com o seu porto e a histórica
"Citadelle" e bastantes bares e restaurantes. O jardim da "Route
Neuve" com os seus restaurantes e esplanadas, são paragem obrigatória para inúmeros "motards".
A estrada entre Saint Florent e Nonza é fantástica e a
paisagem linda. A determinada altura fiz uma curva à direita e vi no alto, do
meu lado esquerdo, uma vila com uma torre velha no cimo. Lindo! Estava em Nonza.
Situada muitos metros acima do nível do mar, a vista é fantástica. (A não
perder!)
Com uma vista assim, acabei por ficar horas neste local e por beber mais que uma cerveja na esplanada da "la Sassa" (Passo a publicidade! Não me pagaram para isso. Acontece que a sua localização é estratégica...e a vista, única!)
No dia seguinte, deixei Saint Florent e tomei a estrada T30 em direcção a L'Ille
Rousse. Mais umas paragens, mais umas fotos.
A seguir, surgiu Calvi, com a
sua linda "Citadelle" e também com uma marina.
Contrariando as indicações do "TOMTOM"
(GPS), segui para Galéria pela estrada D81B, em vez de seguir pela D81,
conforme indicado pelo aparelho. Mais uma má decisão- estrada má e a paisagem
não é "imperdível". Sofri eu e a moto! A localidade de Galéria, pequena vila escondida à
beira mar, tinha poucos turistas mas muitos encantos e praias sossegadas. Vale a pena.
A viagem entre Galéria e Piana, rolando pela D81,
teve o seu primeiro ponto alto ao chegar à vila de Porto, com a sua linda praia. Mais um delicioso local para relaxar.
O percurso entre a vila de Porto
e Piana revelou o outro ponto alto, uma paisagem diferente, com rochas altas e escarpadas, em tom
avermelhado ("Les Calanques de Piana"), obrigando a várias
paragens para fotos. Inúmeros carros de turistas parados na estreita estrada, havendo pessoas por todo o lado a tirar fotos, alheias ao trânsito!
Fim do dia, chegada a Ajaccio. Outra enorme surpresa.
Detestando cidades, adorei esta, à noite. Junto ao porto, grande parte das
ruas estavam cheias de esplanadas e de pessoas a comer e beber, num tom animado
mas ameno, nada caótico. Com tanta variedade, difícil foi escolher onde comer
e beber.
Manhã seguinte, passagem por Propriano, Sartène surgiu logo a seguir. Mais uma linda vila histórica, mais uma paragem
obrigatória.
PROPRIANO
SARTÈNE
Seguindo pela T40, paragem obrigatória para ver a "Plage de Roccapina". Recantos com praias escondidas não faltam ao longo da costa...
Bonifácio chamava-me e fui na sua direcção. Antes do fim da tarde, apanhei uma chuvada mas deu para ver umas praias em seu redor e as falésias onde assenta a vila.
Bonifácio chamava-me e fui na sua direcção. Antes do fim da tarde, apanhei uma chuvada mas deu para ver umas praias em seu redor e as falésias onde assenta a vila.
Havia chegado o tão esperado momento: fim de tarde e
noite em Bonifácio. As coisas nem sempre são como desejamos e esperamos, sendo a natureza a mandar, tendo decidido cobrir a vila com
nuvens, não deixando ver o pôr do sol em todo o seu esplendor, ainda assim,
muito lindo.
Com
a chegada da noite a vila iluminou-se e ficou ainda mais... Romântica, Magnífica! Lindo espectáculo! Na marina, grandes e dispendiosos iates atracados
à "sombra" das muralhas iluminadas de azul.
Cinco dias passaram. Mil experiências vivi. Não sei
quantas curvas fiz. Sei o prazer e felicidade que senti nestes dias. A paisagem
da Corsica arrebatou-me, deliciou-me, apaixonou-me. Uma incrível ligação a quatro - Eu, a Moto, a Estrada e a Paisagem. Não há palavras nem
fotos que consigam transmitir esta experiência a quem está de fora.
As estradas da Corsica estão ao nível da beleza da sua
paisagem, são perfeitas. O piso, a inclinação das curvas, a limpeza da estrada,
tudo perfeito. Estas estradas convidam à condução, convidam a deitar
a moto. Entusiasmam. Por vezes entusiasmam demais e a Razão tem que falar mais
alto! É imperativo, pois os perigos existem. Além de inúmeros veículos (carros,
motos, auto-caravanas, bicicletas), há muitos animais a deambular sozinhos
pelas estradas.
Fiz uma condução turística, por vezes semi-desportiva,
tentando sempre não arriscar demasiado, ainda assim, o pneu traseiro da moto rodou de "borda a borda" (Edge to Edge),
"limpando" o centímetro que havia por tocar em cada uma.
Sem vontade de deixar a Corsica mas tentando
aproveitar a oportunidade para visitar também a vizinha Sardinia, apanhei o ferry para Santa
Teresa.
Viajava no barco quando comecei a sentir um enorme vazio. Após aquela experiência de cinco dias, tudo o resto parecia pequeno, pouco interessante. Nada entusiasmado, desembarquei e segui pela costa leste (Costa Smeralda) da ilha, rumo ao sul.
Viajava no barco quando comecei a sentir um enorme vazio. Após aquela experiência de cinco dias, tudo o resto parecia pequeno, pouco interessante. Nada entusiasmado, desembarquei e segui pela costa leste (Costa Smeralda) da ilha, rumo ao sul.
Não vou entrar em
grandes pormenores sobre a Sardinia. Dizer que tem praias fantásticas, lindas,
é quase suficiente e mais que justo. Os tons de azul são deslumbrantes, convidativos, ideais
para quem procura sol, areia e mar com água quente, RELAX!
A seguir a Santa Teresa Gallura, paragem em Palau e visita à Isla Madalena (com
travessia de ferry)- ilha bonita com lindas praias. (Desaconselho a quem tem
pouco tempo pois ir e voltar e fazer praia demora meio dia ou mais, conforme o
tempo passado na praia.)
Abaixo da cidade de Olbia, destaco a praia de Porto San Paolo- bonita
e com poucos turistas, com vista para a "Isla Tavolara".
Mais para sul, paragem no "Belvedere a Capo Coda Cavalo" e logo a seguir, a praia de "la Cinta". Muito
procurada por turistas e sem espaço para estacionar perto. Tem um extenso areal
para percorrer e é muito bonito.
Continuando a descer, cheguei a Cala Gonone. Aqui sim,
vale a pena fazer uma descrição melhor e é local a visitar, sobretudo para quem
gosta de conduzir. Fantástica descida/subida com curvas deliciosas! A praia
também tem atracções que valem a pena visitar.
(Não tirei fotos- o dia estava horrível)
(Não tirei fotos- o dia estava horrível)
Mais a sul surgiu o único troço que percorri na Sardinia e que está à altura de
alguns troços da Corsica - o percurso entre Cala Gonone e Baunei, perto de
Arbatax. Estrada em bom estado, curvas fantásticas e bonita paisagem.
A
cidade de Arbatax também tem os seus encantos, não tendo visto muitos turistas
na zona.
Desci até Cagliari (é a capital da Sardinia), não tendo seguido mais para Sul.
Começando a subir pelo interior, pela SS131, cheguei a Oristano-
mais uma cidade.
A poucos km para Noroeste, surgiu a bonita vila de Bosa. Valeu a pena visitar e passar a noite. Adorei. Os preços são muito agradáveis.
A poucos km para Noroeste, surgiu a bonita vila de Bosa. Valeu a pena visitar e passar a noite. Adorei. Os preços são muito agradáveis.
Alghero - mais uma boa surpresa - Antiga
colónia espanhola, onde os habitantes fazem questão de informar que não falam
"sardo" (língua da Sardinia), apenas falam italiano e
catalão. Uma vila histórica, muito bonita, ideal para passear e comer.
A volta à Sardinia não ficava completa sem visita a
Stintino e à famosa praia de "la pelosa". Uma jóia!! Linda! Cheia de
turistas, claro. Parques de estacionamento a pagar (caro!) e mesmo assim não
havia lugar para estacionar - em Junho!
Estou a escrever este texto no barco, a caminho de
Barcelona, com as sensações ainda "frescas".
Como já disse, são duas ilhas muito diferentes. Cabe a
cada um, de acordo com os gostos pessoais, deve decidir o que quer ter/ver/fazer.
A Sardinia é menos exigente na condução e oferece mais condições para lazer e praias, os preços são, em regra, mais económicos.
A Corsica é muito exigente na condução mas oferece um
prazer único nisso e tem uma fantástica paisagem. Visitar primeiro a Corsica permitiu-me ter frescura
física para aguentar a condução dura mas criou em mim uma espécie de desencanto
quando cheguei à Sardinia. Desencanto esse que sinto agora e não consigo, por
enquanto, escrever de outra forma sobre estas experiências.
A Corsica ficou-me no coração e deixei lá um pouco de
mim. "CORSICA FOREVER!!"
A Sardinia levo-a na memória pelas suas lindas
praias. As pessoas que contactei aqui foram mais calorosas, mais prestáveis e
até mais agradecidas (com os turistas), em contraste com as pessoas que
contactei na Corsica.
Não quero ser injusto para com a Sardinia. É uma ilha enorme, cheia de encantos, sem dúvida. Fiz nela uma viagem de apenas cinco dias, tendo passado a maior parte do tempo a rolar na moto. Pela dimensão da ilha, é impossível circundá-la em cinco dias e ver muita coisa. Cada praia, cada lugar, cada vila/cidade tem o seu encanto, nem um ano bastaria para explorar tudo.
Às duas, até à próxima ou até sempre!
Não quero ser injusto para com a Sardinia. É uma ilha enorme, cheia de encantos, sem dúvida. Fiz nela uma viagem de apenas cinco dias, tendo passado a maior parte do tempo a rolar na moto. Pela dimensão da ilha, é impossível circundá-la em cinco dias e ver muita coisa. Cada praia, cada lugar, cada vila/cidade tem o seu encanto, nem um ano bastaria para explorar tudo.
Às duas, até à próxima ou até sempre!
(Este texto não
pretende ser um guia turístico, é apenas o relato da experiência pessoal do seu
autor)