sábado, 30 de junho de 2018

CÓRSEGA E SARDENHA, A MINHA VERSÃO



INTRODUÇÃO

    Foi por sugestão de um amigo que decidi percorrer de moto as ilhas da  Córsega (Corsica) e da Sardenha (Sardinia). Duas ilhas tão próximas mas tão diferentes.
    Estava no barco a deixar Bonifácio em direcção a Santa Teresa Gallura, após 5 dias a conduzir na Corsica, quando comecei a sentir um enorme vazio. Vazio esse que não voltou a ser preenchido na viagem, nem pela enorme beleza das praias (Spiagge) da Sardinia.

A VIAGEM

    Comecei a conduzir moto com 10 anos, aos 20 comprei a minha primeira mil (1100 CC) mas só me lancei em viagens internacionais aos 40 anos. 
Com milhares de km percorridos em várias motos, considero-me um "motard". Talvez por viajar sozinho, tipo "Urso Solitário", nunca tinha ouvido falar que a Corsica é uma das "mecas" dos "motards". Um amigo do peito falou-me neste paraíso e comecei a traçar planos para a visitar. Algumas pesquisas na internet para ter uma noção do que me esperava. Como não fazia a mínima ideia, todos os comentários que li foram úteis.

    Contrariando sugestões alheias, decidi fazer a viagem entre Lisboa e Barcelona toda seguida. Com tudo preparado de véspera, deixei Lisboa às 5 da manhã, parei 3 vezes no percurso e às 18 horas (hora de Espanha) estava em Barcelona, muito cansado - 1274 km percorridos. Escolhi viajar por Cidade Real e Valência, pois a estrada é menos monótona do que viajar por Madrid.

    Uma breve passagem a pé pela "La Rambla" enquanto esperava pelo embarque e o tempo passou. Conforme determinado pela Grimaldi, 2 horas antes da partida, fiz o check in no ferry. (Abreviando esta experiência, o barco deixou Barcelona à uma da manhã, em vez das 23h00, do horário estabelecido. É de todo o interesse ter algo à mão para comer e beber. Chegada a Porto Torres (Sardinia) às 13h30, com duas horas e meia de atraso.)

    Tinha decidido visitar primeiro a Corsica, pelo que deixei Porto Torres e segui de imediato em direcção a Santa Teresa Gallura, sempre pela estrada junto ao mar. Surpresa agradável ter passado por Castelsardo. (vale a pena visitar).



    Cheguei a Santa Teresa pelas 16 horas e, por razões alheias, já não segui para Bonifácio. A ansiedade aumentava, tão perto e tão longe. No dia seguinte apanhei o primeiro ferry, com elevadas expectativas e algum receio, confesso. O tempo estava bom e o dia iluminado pelo sol fazia brilhar o azul do mar. A aproximação a Bonifácio foi uma experiência linda, pois a vila histórica fica lá bem no alto, à beira dos precipícios. Fiz uma breve passagem pela vila, com tempo para tirar algumas fotos e visitar o túnel da Segunda Guerra Mundial (Le Gouvernail de la Corse).







Havia traçado como objectivo dormir a primeira noite em Corte, pelo que, urgia seguir caminho, deixando a promessa de terminar a visita à Corsica em Bonifácio, para a ver à noite.
Rumei em direção a Porto Veccio, com paragem na linda praia de Santa Giulia. (A não perder!!) Agora posso afirmar que não fica atrás das praias da Sardinia!



Passagem por Porto Veccio com o Col de Bavella em mente. Ao subir a montanha a paisagem foi mudando e cada curva revelava nova surpresa, sempre lindo! Por ser em finais de Junho, viam-se milhares de borboletas nos arbustos ao longo das estradas, num raio de cerca de 30 km em redor de Bonifácio. A estrada até ao Col de Bavella é fantástica e tem vistas maravilhosas, no entanto, este Col revelou-se uma maior surpresa. Único! (A visitar com tempo, para fazer caminhadas.)





Com a rota traçada, segui para Corte, pela D420 e D69, com passagem por Zicavo, Cozzano, Ghisoni e pelo famoso Col de Sorba. Confesso que não foi boa opção pois a viagem foi muito dura para fazer depressa e a estrada não estava em bom estado.  A determinada altura, algures na serra, deixei de ver motos e depois deixei de ver carros e pessoas, só floresta e estrada. O tempo ia passando e fazer 20 km parecia-me uma eternidade. Com tanta curva, subida e descida, os travões e a caixa de velocidades passaram pelo inferno e eu cheguei exausto ao Col de Sorba, não tendo forças nem paciência para o desfrutar, nem para tirar fotos! 


Ghisoni




    À chegada a Corte estava muito contente e aliviado por não ter tido um acidente, devido ao estado da estrada e por não ter chocado com os animais que nela passeiam e dormem - porcos e vacas. Cerca de 190 km percorridos entre Bonifácio e Corte demoraram quase um dia. 
    Corte é uma vila antiga, rústica e estava cheia de vida à noite. A vista do cimo da torre é inigualável! Ver daí o pôr do sol, algo único e apaixonante.









Depois da tortura de viagem do dia anterior, decidi abrandar e traçar percursos mais pequenos. Segui para Bastia, com destino final em Saint Florent e com ideia de visitar Nonza. A viagem até Saint Florent foi breve e sem grande história. Alojei-me frente à praia e logo que foi possível, banho de mar, para refrescar. Recomposto, a meio da tarde segui para Nonza, querendo tomar uma cerveja na esplanada da "la Sassa".

Bastia

Saint Florent é uma bonita vila, junto ao mar, com o seu porto e a histórica "Citadelle" e bastantes bares e restaurantes. O jardim da "Route Neuve" com os seus restaurantes e esplanadas, são paragem obrigatória para inúmeros "motards".





A estrada entre Saint Florent e Nonza é fantástica e a paisagem linda. A determinada altura fiz uma curva à direita e vi no alto, do meu lado esquerdo, uma vila com uma torre velha no cimo. Lindo! Estava em Nonza. Situada muitos metros acima do nível do mar, a vista é fantástica. (A não perder!) 





Com uma vista assim, acabei por ficar horas neste local e por beber mais que uma cerveja na esplanada da "la Sassa" (Passo a publicidade! Não me pagaram para isso. Acontece que a sua localização é estratégica...e a vista, única!)

No dia seguinte, deixei Saint Florent e tomei a estrada T30 em direcção a L'Ille Rousse. Mais umas paragens, mais umas fotos.



A seguir, surgiu Calvi, com a sua linda "Citadelle" e também com uma marina.




Contrariando as indicações do "TOMTOM" (GPS), segui para Galéria pela estrada D81B, em vez de seguir pela D81, conforme indicado pelo aparelho. Mais uma má decisão- estrada má e a paisagem não é "imperdível". Sofri eu e a moto! A localidade de Galéria, pequena vila escondida à beira mar, tinha poucos turistas mas muitos encantos e praias sossegadas. Vale a pena.


A viagem entre Galéria e Piana, rolando pela D81, teve o seu primeiro ponto alto ao chegar à vila de Porto, com a sua linda praia. Mais um delicioso local para relaxar. 


O percurso entre a vila de Porto e Piana revelou o outro ponto alto, uma paisagem diferente, com rochas altas e escarpadas, em tom avermelhado ("Les Calanques de Piana"), obrigando a várias paragens para fotos. Inúmeros carros de turistas parados na estreita estrada, havendo pessoas por todo o lado a tirar fotos, alheias ao trânsito! 



Fim do dia, chegada a Ajaccio. Outra enorme surpresa. Detestando cidades, adorei esta, à noite. Junto ao porto, grande parte das ruas estavam cheias de esplanadas e de pessoas a comer e beber, num tom animado mas ameno, nada caótico. Com tanta variedade, difícil foi escolher onde comer e beber.








Manhã seguinte, passagem por Propriano, Sartène surgiu logo a seguir. Mais uma linda vila histórica, mais uma paragem obrigatória.


PROPRIANO


SARTÈNE





Seguindo pela T40, paragem obrigatória para ver a "Plage de Roccapina". Recantos com praias escondidas não faltam ao longo da costa...



Bonifácio chamava-me e fui na sua direcção. Antes do fim da tarde, apanhei uma chuvada mas deu para ver umas praias em seu redor e as falésias onde assenta a vila.



Havia chegado o tão esperado momento: fim de tarde e noite em Bonifácio. As coisas nem sempre são como desejamos e esperamos, sendo a natureza a mandar, tendo decidido cobrir a vila com nuvens, não deixando ver o pôr do sol em todo o seu esplendor, ainda assim, muito lindo. 






Com a chegada da noite a vila iluminou-se e ficou ainda mais... Romântica, Magnífica! Lindo espectáculo! Na marina, grandes e dispendiosos iates atracados à "sombra" das muralhas iluminadas de azul.




    Cinco dias passaram. Mil experiências vivi. Não sei quantas curvas fiz. Sei o prazer e felicidade que senti nestes dias. A paisagem da Corsica arrebatou-me, deliciou-me, apaixonou-me. Uma incrível ligação a quatro - Eu, a Moto, a Estrada e a Paisagem. Não há palavras nem fotos que consigam transmitir esta experiência a quem está de fora. 

    As estradas da Corsica estão ao nível da beleza da sua paisagem, são perfeitas. O piso, a inclinação das curvas, a limpeza da estrada, tudo perfeito. Estas estradas convidam à condução, convidam a deitar a moto. Entusiasmam. Por vezes entusiasmam demais e a Razão tem que falar mais alto! É imperativo, pois os perigos existem. Além de inúmeros veículos (carros, motos, auto-caravanas, bicicletas), há muitos animais a deambular sozinhos pelas  estradas.
    Fiz uma condução turística, por vezes semi-desportiva, tentando sempre não arriscar demasiado, ainda assim, o pneu traseiro da moto rodou de "borda a borda" (Edge to Edge), "limpando" o centímetro que havia por tocar em cada uma. 

    Sem vontade de deixar a Corsica mas tentando aproveitar a oportunidade para visitar também a vizinha Sardinia, apanhei o ferry para Santa Teresa.
    Viajava no barco quando comecei a sentir um enorme vazio. Após aquela experiência de cinco dias, tudo o resto parecia pequeno, pouco interessante. Nada entusiasmado, desembarquei e segui pela costa leste  (Costa Smeralda) da ilha, rumo ao sul. 
    Não vou entrar em grandes pormenores sobre a Sardinia. Dizer que tem praias fantásticas, lindas, é quase suficiente e mais que justo. Os tons de azul são deslumbrantes, convidativos, ideais para quem procura sol, areia e mar com água quente, RELAX!
    A seguir a Santa Teresa Gallura, paragem em Palau e visita à Isla Madalena (com travessia de ferry)- ilha bonita com lindas praias. (Desaconselho a quem tem pouco tempo pois ir e voltar e fazer praia demora meio dia ou mais, conforme o tempo passado na praia.






Porto Cervo-  bonita vila e marina. Mais um porto com Iates de luxo.





Abaixo da cidade de Olbia, destaco a praia de Porto San Paolo- bonita e com poucos turistas, com vista para a "Isla Tavolara".





Mais para sul, paragem no "Belvedere a Capo Coda Cavalo" e logo a seguir, a praia de "la Cinta". Muito procurada por turistas e sem espaço para estacionar perto. Tem um extenso areal para percorrer e é muito bonito.





Continuando a descer, cheguei a Cala Gonone. Aqui sim, vale a pena fazer uma descrição melhor e é local a visitar, sobretudo para quem gosta de conduzir. Fantástica descida/subida com curvas deliciosas! A praia também tem atracções que valem a pena visitar.

(Não tirei fotos- o dia estava horrível)

Mais a sul surgiu o único troço que percorri na Sardinia e que está à altura de alguns troços da Corsica - o percurso entre Cala Gonone e Baunei, perto de Arbatax. Estrada em bom estado, curvas fantásticas e bonita paisagem.

A cidade de Arbatax também tem os seus encantos, não tendo visto muitos turistas na zona.





Mais abaixo, surgiu Capo Ferrato e a extensa Costa Rei- ricas praias!








Desci até Cagliari (é a capital da Sardinia), não tendo seguido mais para Sul.

Começando a subir pelo interior, pela SS131, cheguei a Oristano- mais uma cidade. 




A poucos km para Noroeste, surgiu a bonita vila de Bosa. Valeu a pena visitar e passar a noite. Adorei. Os preços são muito agradáveis.










Alghero - mais uma boa surpresa - Antiga colónia espanhola, onde os habitantes fazem questão de informar que não falam "sardo" (língua da Sardinia), apenas falam italiano e catalão. Uma vila histórica, muito bonita, ideal para passear e comer.












A volta à Sardinia não ficava completa sem visita a Stintino e à famosa praia de "la pelosa". Uma jóia!! Linda! Cheia de turistas, claro. Parques de estacionamento a pagar (caro!) e mesmo assim não havia lugar para estacionar - em Junho!






    Estou a escrever este texto no barco, a caminho de Barcelona, com as sensações ainda "frescas".
    Como já disse, são duas ilhas muito diferentes. Cabe a cada um, de acordo com os gostos pessoais, deve decidir o que quer ter/ver/fazer.
   A Sardinia é menos exigente na condução e oferece mais condições para lazer e praias, os preços são, em regra, mais económicos.
    A Corsica é muito exigente na condução mas oferece um prazer único nisso e tem uma fantástica paisagem. Visitar primeiro a Corsica permitiu-me ter frescura física para aguentar a condução dura mas criou em mim uma espécie de desencanto quando cheguei à Sardinia. Desencanto esse que sinto agora e não consigo, por enquanto, escrever de outra forma sobre estas experiências. 
    A Corsica ficou-me no coração e deixei lá um pouco de mim. "CORSICA FOREVER!!"
   A Sardinia levo-a na memória pelas suas lindas praias. As pessoas que contactei aqui foram mais calorosas, mais prestáveis e até mais agradecidas (com os turistas), em contraste com as pessoas que contactei na Corsica. 
    Não quero ser injusto para com a Sardinia. É uma ilha enorme, cheia de encantos, sem dúvida. Fiz nela uma viagem de apenas cinco dias, tendo passado a maior parte do tempo a rolar na moto. Pela dimensão da ilha, é impossível circundá-la em cinco dias e ver muita coisa. Cada praia, cada lugar, cada vila/cidade tem o seu encanto, nem um ano bastaria para explorar tudo.
    Às duas, até à próxima ou até sempre!




(Este texto não pretende ser um guia turístico, é apenas o relato da experiência pessoal do seu autor)

Que bem q se está aqui.....

Foi obra!!! (as pirâmides)