quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

ALI...



Ali estava parado, inerte, apático, macambúzio, indiferente...
À sua volta um vasto oceano, imenso, acinzentado.
A ondulação constante sacudia-o, fustigava-o... Ventos gélidos castigavam-lhe o rosto encrespado e já sulcado pelas rugas.


Olhar fixo e gélido apontado para o nada. Ali estava. Nada lhe interessava, nada...
De vez em quando o mar acalmava e o sol acariciava-lhe a face. Uma gaivota ou outra visitavam-no e parecia fazerem-lhe despertar uma expressão ... Mas, elas seguiam a sua rota e ele ali ficava. O Céu enegrecia-se de novo.


Nos dias mais amenos avistava ao longe alvos barcos, carregados de luz e alegria; queria ir com eles, tentava mas em vão. Ali ficava. Dias e noites sucediam-se... nada lhe interessava.


Questionava-se, por vezes, por que estaria ali, no meio do oceano, no meio do nada.... interrogava-se por que tinha que viver assim...


Sempre que brilhava o sol ou avistava uma gaivota, sentia vontade de partir. Para onde? Partir. Apenas partir. Ir sem rumo, sem destino. Queria mas não conseguia. Não entendia porquê.


Recordações distantes surgiam-lhe por vezes. Algumas boas mas, tão distantes...
Que mal teria feito, murmurava. Queria mudar, queria viver diferente, queria seguir o rumo das gaivotas e dos barcos que ali passavam. Para onde iriam eles?


Pensava depois que eles tinham o seu próprio destino.... um rumo que não lhe estava destinado. Sabia que não podia entrar assim a meio de uma viagem... Sabia-o.


As vagas constantes desgastavam-no cada vez mais, impediam-no de olhar para a frente, então, olhava para trás, recordava, recordava... Tudo tão longe de si.. onde estariam? Que sorte lhes havia calhado?


Cada dia que passava sentia-se mais enfraquecido, já não conseguia encarar os raros raios de sol que surgiam. Só olhava para trás... Olhava, olhava e sentia-se cada vez mais só.
Não entendia... que mal havia feito? Seria castigo?


Tantos barcos deixava passar sem os conseguir alcançar. tantos rumos que podia seguir mas, não conseguia...


Um dia, usando todas as suas forças, tentou mexer-se, tentou sair dali e... nada. Olhou então para baixo e viu que uma enorme âncora estava presa às suas pernas. Fixando o negro e profundo oceano conseguiu ver o que o prendia. PASSADO, era o seu nome.


(imagem google)

3 comentários:

margusta disse...

Impressionante texto ! Apertou-se-me o coração no final...
Ando a carregar uma âncora dessas...

Bom final de semana!

:) era para ser seguidora aqui deste pois...

margusta disse...

Obrigada C. pelas suas palavras.Sempre.

Um beijo e boa semana :)
Margusta

Pandora disse...

Não se vive transportando o passado debaixo do braço, definitivamente


Que bem q se está aqui.....

Foi obra!!! (as pirâmides)