domingo, 27 de julho de 2008

Texto do jornalista Mário Crespo





Limpeza étnica

O homem, jovem, movimentava-se num desespero agitado entre um grupo de mulheres vestidas de negro que ululavam lamentos. "Perdi tudo!" "O que é que perdeu?" perguntou-lhe um repórter.
"Entraram-me em casa, espatifaram tudo. Levaram o plasma, o DVD a aparelhagem..." Esta foi uma das esclarecedoras declarações dos autodesalojados da Quinta da Fonte. A imagem do absurdo em que a assistência social se tornou em Portugal fica clara quando é complementada com as informações do presidente da Câmara de Loures: uma elevadíssima percentagem da população do bairro recebe rendimento de inserção social e paga "quatro ou cinco euros de renda mensal" pelas habitações camarárias. Dias depois, noutra reportagem outro jovem adulto mostrava a sua casa vandalizada, apontando a sala de onde tinham levado a TV e os DVD. A seguir, transtornadíssimo, ia ao que tinha sido o quarto dos filhos dizendo que "até a TV e a playstation das crianças" lhe tinham roubado. Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência. A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul. É inexplicável num país de economias domésticas esfrangalhadas por uma Euribor com freio nos dentes que há famílias que pagam "quatro ou cinco Euros de renda" à câmara de Loures e no fim do mês recebem o rendimento social de inserção que, se habilmente requerido por um grupo familiar de cinco ou seis pessoas, atinge quantias muito acima do ordenado mínimo. É inaceitável que estes beneficiários de tudo e mais alguma coisa ainda querem que os seus T2 e T3 a "quatro ou cinco euros mensais" lhes sejam dados em zonas "onde não haja pretos". Não é o sistema em Portugal que marginaliza comunidades. O sistema é que se tem vindo a alhear da realidade e da decência e agora é confrontado por elas em plena rua com manifestações de índole intoleravelmente racista e saraivadas de balas de grande calibre disparadas com impunidade. O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis. Pelo contrário. Do silêncio cúmplice do grupo de marginais sai eloquente uma mensagem de ameaça de contorno criminoso - "ou nos dão uma zona etnicamente limpa ou matamos." A resposta do Estado veio numa patética distribuição de flores a cabecilhas de gangs de traficantes e autodenominados representantes comunitários, entre os sorrisos da resignação embaraçada dos responsáveis autárquicos e do governo civil. Cá fora, no terreno, o único elemento que ainda nos separa da barbárie e da anarquia mantém na Quinta da Fonte uma guarda de 24 horas por dia com metralhadoras e coletes à prova de bala. Provavelmente, enquanto arriscam a vida neste parque temático de incongruências socio-políticas, os defensores do que nos resta de ordem pensam que ganham menos que um desses agregados familiares de profissionais da extorsão e que o ordenado da PSP deste mês de Julho se vai ressentir outra vez da subida da Euribor.
JULHO de 2008

3 comentários:

KING SOLOMON disse...

Este é um assunto actual e ao lê-lo, não resisti em colocá-lo neste blog. Faço minhas as palavras do Dr. Mário Crespo! Ele retrata muito bem a realidade; eu não o conseguia fazer melhor. O seu lado jornalístico falou imparcialmente, sem acusar pressões ou quaisquer receios. Por se tratar de um jornalista de renome, figura de proa na SIC Notícias, poderia ter sido mais comedido nas opiniões; não o foi e ainda bem. Lamento o facto de ele não manifestar estas opiniões nos seus programas televisivos, a uma audiência de milhões de espectadores. (não tenho conhecimento que o tenha feito)
Como ele muito bem diz, há muitas injustiças em Portugal e, relativamente a subsídios e rendimentos de inserção social, muito tem que ser feito para as combater. Quando falo em injustiças não me refiro às denominadas "minorias" étnicas que se dizem "marginalizadas"; falo do comum cidadão, cumpridor das suas obrigações, que paga os seus impostos, paga a casa para habitar, os livros para os filhos, etc, e, de um momento para o outro vê-se expulso do emprego. Este sim, este é marginalizado! Toda a vida cumpriu as suas obrigações e quando precisa do Estado, são-lhe criadas inúmeras dificuldades para não lhe darem aquilo a que tem direito.
Em relação às ditas "minorias", quem não as viu de BMW, Mercedes ou afins? Quem os vê pagar impostos? Então, com que direito exigem o que quer que seja?? Só o fazem porque a classe política em Portugal não tem coragem para os enfrentar! Seria "impopular" fazê-lo. São como um ninho de vespas, os políticos sabem que fazem mal mas, preferem não as incomodar.
São estas "minorias" que têm que se adaptar à sociedade e não esta aos primeiros!
Na minha opinião, o cidadão cumpridor dos seus deveres em sociedade tem que ter vantagens e compensações por ter esse comportamento. Na realidade, passa-se precisamente o contrário. Quem cumpre é quem mais "paga" e é quem consegue menos ajudas. Acho que o correcto, numa sociedade, seria o cidadão prevaricador e não cumpridor perder direitos. Quem cumpre- teria vantagens; quem não cumpre- seria prejudicado, perderia direitos e regalias. Não posso aceitar que digam direitos iguais para todos! Direitos iguais para todos- à nascença. Isso sim. A partir do momento em que o cidadão, conscientemente, enveredasse por caminhos errados (contra as leis da vida em sociedade), deveria perder direitos e regalias. SE assim fosse, teríamos sociedades mais justas e as pessoas sentir-se-iam melhor e compesadas por terem uma conduta correcta. Nos moldes actuais, o cidadão cumpridor sente-se enganado; que vantagem tem em cumprir? Mais contas para pagar! Só isso.
O Estado, na minha opinião-mais uma vez, deve assumir um papel de "pai" que educa/ensina, fornece o que é necessário para "crescer" mas, fiscaliza também o que o filho anda a fazer.(...)

KING SOLOMON disse...

Ainda sobre as "minorias", é um facto que são um grande problema na sociedade. A política seguida nos últimos anos tem sido uma política de não "interveção", de não "incomodar". Todos sabemos que essas "comunidades" insistem em viver de uma forma muito própria e por vezes marginal; sabemos de igual modo que são conflituosos e problemáticos (tal como o ninho de vespas) mas, a atitude mais correcta não é deixá-los fazer o que querem. Ainda que impopular, há que os enfrentar e fazer seguir as regras da vida em sociedade (da nossa sociedade) onde eles estão inseridos. Tal como uma criança de tenra idade ou um animal irracional, se permitirmos que façam o que querem, sem os contrariar, teremos um grande problema quando crescerem. Viver em sociedade é seguir as regras gerais dessa sociedade!

KING SOLOMON disse...

Os nossos políticos são uma espécie que se agarra ao poder e não gostam de tomar medidas menos populares que lhe retirem o poleiro. Desta forma, têm preferido fechar os olhos a determinados problemas. Vejamos o casos das armas ilegais- diz o jornalista e foi visto na TV- "saraivadas de balas de grande calibre disparadas com impunidade", "O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis". É! Verdade! E o que fez o Governo? Alterou o CPP de forma a que os Juizes apliquem menos medidas de prisão preventiva! Entre outras boas ideias. Faço uma pergunta: numa situação em que as pessoas andam aos tiros na rua e depois escondem-se em casa, protegidas por leis que proibem as autoridades de entrar, o que fazer? Podem haver muitas opiniões (direitos, etc), para mim, só havia uma coisa a fazer- cercar o bairro todo, não deixar sair nem entrar qualquer pessoa e passar busca a todas as residências para encontrar as armas e os culpados. E os inocentes? perguntam. Quem não deve não teme, se estiver inocente continuaria a sua vida. Creio que só assim, com medidas destas, se pode ter segurança. Não há perca de direitos! Há um enorme ganho de segurança e bem estar. Se tal fosse permitido, estas actuações (tiros na via pública) não se verificariam!


Que bem q se está aqui.....

Foi obra!!! (as pirâmides)